Morte súbita durante atividade física

Publicado em por Amandina Morbeck em Saúde
Foto: AdobeStock (licenciada).

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Sempre ouvimos falar sobre a importância da prática de atividade física e fazer exercícios virou sinônimo de saúde, mas também ouvimos falar mais sobre morte súbita durante atividade física.

Mas como assim? Praticar exercício não é como uma vacina que garantirá vida longa e feliz? Infelizmente, não e  talvez por isso ficamos tão chocados quando alguém, principalmente jovem, morre durante a prática de alguma atividade física.

Atividade física também oferece riscos

Ser ativo fisicamente é bom e saudável, mas não podemos negar que existem riscos. É por esse motivo que, ao se matricular numa academia, é necessário que você apresente um atestado que comprove sua aptidão física para praticar exercícios ou que, numa atividade promovida por empresas turísticas ou por guias independentes, digamos, para uma caminhada mais longa, você precisa assinar um termo de responsabilidade no qual afirma que está em condições físicas para fazer aquela atividade, isentando terceiros em caso de problemas.

Quando alguém morre de forma súbita, inesperada ou instantânea durante a prática de qualquer atividade física, chamamos o evento de morte súbita relacionada ao exercício e ao esporte. Existem estudos que defendem que os casos de morte que acontecem até 24 horas após o término do exercício físico também deveriam ser incluídos nessa estatística.

Não sabemos exatamente a incidência desse tipo de morte, pois muitos eventos não são notificados, mas estima-se que fique em torno de 2,3 mortes/100.000 atletas por ano e são mais comuns em homens. Alguns estudos falam em 6 a 7 vezes mais casos em homens.

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O que pode provocar morte súbita

Esse tipo de morte durante a prática de exercício pode ser precipitada por situação ambiental extrema (muito frio, muito calor, insolação, ar seco etc.) ou estar relacionada a distúrbios hidroeletrolíticos – basicamente desidratação.

Indivíduos sedentários correm mais riscos. Por quê?

Porque quando praticamos qualquer atividade física, o coração é muito exigido e sua atividade elétrica é acelerada.

Se o condicionamento for de bom para cima, o coração responde como um carro com manutenção em dia e bem feita: você pode acelerar mais que ele responde e diminui corretamente quando você pisa no freio. Ou seja, o coração comporta-se favoravelmente, ficando mais estável, com menos chance de fazer arritmia (descompasso) ou de haver ruptura da placa aterosclerótica, que pode provocar entupimento da coronária e provocar infarto.

Para deixar esse ponto mais claro: exercício sem preparo sobrecarrega excessivamente o coração, deixando-o instável e predispondo-o a arritmia fatal ou a infarto fulminante.

Diferença entre arritmia e infarto

Nem toda arritmia é fatal e nem todo infarto é fulminante, ou seja, pode ser que esses eventos aconteçam e a pessoa não morra. Mas durante o estresse provocado pela atividade física, aumentam-se os riscos de ocorrer um desses eventos potencialmente fatais.

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Nem toda morte súbita é infarto

Quanto à causa, nem toda morte súbita é infarto, embora mais de 90% dos casos esteja relacionada a parte cardiológica, seja por problema cardíaco sobre o qual a pessoa tenha conhecimento ou por algum ainda não diagnosticado.

Mas geralmente as pessoas só falam que “foi infarto”.

Ser jovem não é garantia de saúde perfeita

Um erro muito comum é acreditar que o simples fato de a pessoa ser jovem, ela pode praticar qualquer tipo de atividade física sem se preocupar com limite físico.

O que acontece é que em pessoas mais jovens, com menos de 30 anos de idade, a causa mais comum de morte súbita são as cardiopatias congênitas, isto é, defeitos de fábrica no coração.

Já em pessoas com mais de 35 anos de idade, infarto é o grande responsável pela maioria das mortes.

Causas conhecidas, causas evitáveis

Se 90% das causas são conhecidas, quer dizer que 90% dos casos são evitáveis. Como? Bem simples: antes de iniciar qualquer atividade física, procure um médico para um check-up e para teste de esforço (ou ergométrico), que pode ser feito numa esteira ou numa bicicleta. Se tudo estiver bem, pratique atividade de forma regular para manter o coração saudável e não se arrisque em atividades extenuantes sem preparo adequado.

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Importância do condicionamento gradativo

Muitas pessoas acham que precisam provocar cansaço extremo para sentir que estão praticando exercícios de forma correta, mas não é bem assim. Para condicionar o coração – na verdade, todo o sistema cardiorrespiratório – é preciso paciência.

É importante aumentar gradativamente a carga de exercícios – seja ele qual for – de forma que você não passe dos limites que seu corpo pode suportar. É fundamental respeitar os alertas que o corpo dá.

Sinais de alerta

Esses são os principais sinais de alerta para mostrar que você passou do limite durante a prática de qualquer atividade física. Se sentir um ou mais destes sintomas, imediatamente interrompa o que estiver fazendo: exaustão extrema que o impede de falar, falta de ar, respiração e coração muito, muito acelerados, tontura, náusea ou vômito ou os dois, sensação de que vai desmaiar, dor no peito, palpitação (arritmia), dor de cabeça e perda de equilíbrio.

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Importância da hidratação durante qualquer atividade física

Seja uma caminhada longa ou curta, uma corrida, uma pedalada, uma sessão de cross-fit, de yoga ou de pilates, uma escalada etc., hidratação é fundamental.

Por quê? Porque a prática de exercício, mesmo com tempo frio, aumenta a perda de água do corpo através do suor e da respiração. Se essa água não for reposta, leva às seguintes alterações na composição sanguínea: 1) desequilíbrio dos eletrólitos (sais existentes no sangue), que predispõe a arritmia e 2) aumento da viscosidade do sangue, que fica mais grosso, aumentando o trabalho do coração (que não consegue bombear com a mesma eficiência) e as chances de obstrução de uma coronária.

Finalizando, espero que com essa rápida explanação você perceba a importância de praticar qualquer atividade física com mais consciência e responsabilidade. Quanto mais longo o tempo de atividade, mais atenção você precisa ter em relação a esses pontos.

Autora: Dra. Janaina B. Vieira, médica cardiologista e clínica geral


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