Roberta Borsari: meu negócio é remar! [Entrevista]

Publicado em por Amandina Morbeck em Entrevistas
Roberta posa com todo o seu equipamento em sua mesa de trabalho no UOL - Foto: Eduardo Abranches.

Essa foto de Roberta com todo o seu equipamento em sua mesa de trabalho no UOL ilustrou a entrevista em 2005 – Foto: Reprodução/Eduardo Abranches.

Essa entrevista que fiz com Roberta Borsari aconteceu em 2005. Na época eu trabalhava como repórter na revista Aventura&Ação e, mensalmente, entrevistava uma mulher com destaque no mundo da aventura (no presente ou no passado). Para reprodução aqui, atualizei as informações em janeiro/2016.

Em 2005, com seu remo e seu caiaque, a canoista paulista Roberta Borsari (Bebeta) já tinha muitos títulos em sua carreira: tri-campeã brasileira de rafting, bi-campeã brasileira de canoa havaiana, campeã brasileira de kayaksurf, 13a colocada no I Mundial de Kayaksurf na Irlanda em 2003, primeira mulher a descer as corredeiras do Rio Iapó, um dos mais perigosos do Brasil e seu único lamento era o fato de a capital de São Paulo, onde mora e trabalha como webdesigner no UOL, ficar longe do mar. Para praticar kayaksurf, tinha de viajar para o litoral norte paulista nos fins de semana – rotina que segue até hoje.

Desde a entrevista, Roberta conquistou muitos outros títulos e várias participações em eventos (confira aqui) e também tornou-se praticante de SUP (stand-up paddle), realizando várias aventuras nessa modalidade, como a volta da ilha Fernando de Noronha em 2014.

Leia abaixo nossa primeira conversa:

Amandina Morbeck: Fale um pouco sobre sua história de vida e de onde vem essa sua paixão pela canoagem.
Roberta Borsari: Meus pais eram professores de educação física, portanto, desde muito cedo fui estimulada a praticar esportes, acampar, competir. O contato com o universo dos rios veio um pouco mais tarde, junto com meu irmão. Depois, conheci o José Roberto Pupo, um dos pioneiros do rafting no Brasil, que me deu muita força e com quem trabalhei como instrutora de rafting. Por causa disso, fui para a Costa Rica fazer um estágio, acho que em 1999, e aí pirei. Volta para o Brasil e no fim de semana seguinte, comprei meu primeiro caiaque.

AM: Atualmente, você tem se destacado no kayaksurf. Como ele é praticado?
RB: É um caiaque pequeno e curto, com a base idêntica a de uma prancha de surfe. Com ele, é possível pegar ondas de até 3 metros de altura.

AM: As ondas têm caminhos?
RB: Sim, como os rios também têm. E é preciso conhecê-los para tirar o melhor proveito deles.

AM: Como é seu treinamento?
RB: Treino na raia da USP de segunda a sexta-feira sob a orientação do Pupo. Corro e remo. Treino até duas horas e meia por dia. Aos fins de semana, vou para o litoral norte e remo o dia todo. Descanso um dia por semana. O fato de eu só competir com homens aqui no Brasil faz com que meu treinamento seja mais duro, mais exigente. Além do físico, é importante cuidadr do aspecto mental também, que é tão ou mais importante. É preciso preparar a mente para vencer desafios, manter-se concentrada e não se deixar “adrenalizar” em situações de risco, mantendo a autoconfiança e a capacidade de tomar decisões. A forma que encontrei para trabalhar esse lado é a prática de yoga.

AM: Você transfere essa autoconfiança e essa capacidade de planejamento do esporte para sua vida ou vide-versa?
RB: As coisas estão totalmente relacionadas e você leva tudo para sua vida pessoal, profissional, seu dia a dia. Você se acostuma a se preparar para lidar com situações inesperadas. De cair, errar, levantar e tentar de novo, de ter determinação, então, acho que tudo isso você leva para seu dia a dia.

AM: E como fica sua vida pessoal com tanta dedicação ao esporte?
RB: Afetivamente, tenho descoberto que o melhor é ter alguém que também seja amante de canoagem ou de algum esporte de aventura para que possamos nos entender melhor. Minha família me apoia, mas há sempre alguma coisa sendo deixada para trás, como festas de aniversário, reuniões, casamentos. Às vezes, isso pesa um pouco.

AM: Você já passou por alguma situação com risco de morte? E o medo?
RB: Ah, não tem como não ter vivenciado algumas. E o medo existe como alerta. Por meio dele, aprendi a respeitar a natureza, ninguém está acima dela. Já passei ums perrengues, sim. Um que foi difícil aconteceu no mar da Praia da Baleia [litoral norte de São Paulo] num dia em que as ondas estavam muito grandes, com 2,5 metros. Eu estava muito longe da praia e fui jogada para fora do caiaque. Sem colete, vestia uma jaqueta que não era apropriada para remar no mar. Ela encharcou e ficou muito pesada, me puxando para baixo, e eu tentando voltar à superfície e sendo atingida seguidamente por ondas grandes. Não dava para tirar a jaqueta, eu tentava nadar e não saía do lugar. Finalmente, meu irmão percebeu o que estava acontecendo e veio me socorrer. Segurei no caiaque dele e ele remou de volta à praia. Foi pauleira! Nessas horas é preciso ter muito sangue-frio para não desesperar. E aí entra a importância do trabalho mental.

AM: É possível viver do esporte? Como é a questão do patrocínio?
RB: Não, pelo menos ainda. Sou designer gráfico e trabalho no UOL, que é meu patrocinador, investe e acredita no que faço, o que me dá muita força. Tenho o privilégio de trabalhar numa empresa qeu me entende como profissional e como atleta. É uma relação muito especial.


 

Amandina Morbeck

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