Izabel Pimentel: a primeira velejadora brasileira que deu a volta ao mundo sozinha [Entrevista]

Publicado em por Amandina Morbeck em Entrevistas
Izabel Pimentel e sua gata Ellen - Foto: Arquivo pessoal.

Izabel Pimentel e sua gata Ellen – Foto: Arquivo pessoal.

Essa entrevista que fiz com Izabel Pimentel aconteceu em 2006. Na época eu trabalhava como repórter na revista Aventura&Ação e, mensalmente, entrevistava uma mulher com destaque no mundo da aventura (no presente ou no passado). Para reprodução aqui, atualizei as informações em janeiro/2016.

Izabel Pimentel, então com 40 anos de idade, cruzou o Oceano Atlântico numa aventura solitária a bordo de um pequeno veleiro de 6,5 metros de comprimento, o Arnaud 1. Ela partiu de Cascais, em Portugal, e chegou ao Brasil aportando em Fortaleza (CE) depois de 8.300 km e 42 dias – de 10/07 a 21/08/2006 -, tornando-se a primeira brasileira a realizar tal feito.

Logo após sua chegada, conversamos sobre sua aventura e sobre seus planos futuros.

Izabel Pimentel no pequeno veleiro Arnaud 1 - Foto: Reprodução/Marcos Rodrigues.

Izabel Pimentel no pequeno veleiro Arnaud 1 – Foto: Reprodução/Marcos Rodrigues.

Amandina Morbeck: Desde quando você veleja e como foi seu primeiro contato com o mar?
Izabel Pimentel: Velejo desde os 21 anos e comecei com windsurf na Barra da Tijuca. Nasci em Mato Grosso do Sul, mas morei no sul do Brasil, no Rio de Janeiro, depois em Paraty e há sete anos morava em Portugal. Voltei ao Brasil em fevereiro de 2006 para a preparação dessa travessia.

AM: Qual sua experiência no mar antes de você pensar na travessia do Atlântico?
IP: Fiz várias travessias de veleiro nas costas brasileira e portuguesa e no Mediterrâneo. Tenho grande experiência também com remo. Remei de Santos a Vitória, no litoral baiano, toda a costa portuguesa e 300 km na costa espanhola.

AM: Fale sobre o barco usado na travessia.
IP: É um veleiro de 21 pés (6,5 metros) de comprimento batizado de Arnaud 1. Em 1987, seu proprietário na época correu a Minitransat* com ele. Resolveu comprá-lo de volta agora, por 30 mil euros, e vai correr essa mesma regata este ano.

AM: Como foi o planejamento para essa aventura?
IP: Fizemos um estudo de correntes, de ventos e de rotas de navios. Fiz outras pequenas travessias e li sobre histórias de outras pessoas que viveram essa experiência.

AM: Comida e água. Quanto você levou?
IP: Em quilos não sei precisar, mas era suficiente para dois meses. Agora, água foram cem litros e acabei a travessia com apenas dez. Não desperdicei nem com banho.

AM: Você sentiu medo durante a viagem?
IP: Sim. tive uma experiência forte com um navio, no primeiro dia que saí de Lisboa, que quase me atropelou. A partir daí, tomei mais cuidado. No mais, já estou acostumada com ondas, com mau tempo, com essas dificuldades comuns para quem navega.

AM: Você passou por algum perrengue?
IP: A quebra do leme. Em nenhum momento pensei que isso pudesse acontecer. Faltou uma caixa de ferramentas melhor equipada. Fiquei 24 horas à deriva até conseguir improvisar um com fibra de vidro, mas que acabou quebrando depois. Daí, prendi uma peça do barco num cabo, o amarrei nas velas e passei a manobrá-la. A peça ajudava a segurar a direção que eu dava. Com isso, consegui chegar a Fortaleza e não a Fernando de Noronha, como era o plano original.

AM: Teve algum momento marcante?
IP: Sim, quando cruzei a linha do Equador.

AM: Algum plano ambicioso?
IP: Quero dar a volta ao mundo. Esse projeto que acabei de realizar – Atlantic Freedom – fez com que eu começasse a caminhar nessa longa estrada em direção ao meu sonho, que está cada vez mais próximo.

AM: Como é seu novo barco? Você conseguiu patrocínio?
IP: Ele também tem 21 pés, será utilizado na Minitransat, e feito de fibra trançada com epóxi e custa em torno de R$ 200 mil. Tenho patrocínio para essa nova temporada, que inclui cinco regatas internacionais, uma travessia de 1.000 milhas (1.600 km) da França à Irlanda (ida e volta) sem escalas, viagem, equipe de terra mais o barco. Tudo isso ficará acima de R$ 1 milhão.

AM: Quais são seus planos para o futuro?
IP: Minitransat 2007, além de várias regatas internacionais. A partir de abril começa a qualificação para o Minitransat. Quero fazer uma prova bonita, dar o melhor que posso para terminar bem. Há dez mulheres inscritas – nove francesas e eu, a única brasileira. Ao todo, são 75 inscritos e na classificação não há separação entre homens e mulheres. Preciso treinar muito porque esse pessoal aí está fazendo isso há muito tempo.

*A Minitransat foi rebatizada como Transat 6.50. É uma competição a vela transatlântica em solitário para pequenos veleiros de 6,5 metros de comprimento. Foi criada em 1977 e, por causa da fragilidade da pequena embarcação barco e também porque é feita em solitário, tem uma etapa nas Ilhas Canárias ou na Ilha Madeira, onde ficam vários dias antes de seguirem direção a Salvador, capital baiana. Até 1999 o ponto de chagada eram as Antilhas. Esta prova é considerado o apogeu da classe mini.


A velejadora Izabel Pimentel em plena atividade - Foto: Arquivo pessoal.

A velejadora Izabel em plena atividade – Foto: Arquivo pessoal.

Atualização:

    • Em 2007 Izabel não conseguiu participar da Minitransat. Fez então sua segunda travessia do Atlântico partindo de Sète, na França.
    • Em 2008 foi entrevistada pelo Jô Soares. Assista aqui.
    • Em 2008 lançou o livro A travessia de uma mulher.
    • Em 2008, foi a primeira brasileira a participar da Regata Oceânica Recife/Fernando de Noronha (Refeno) em solitário. Para essa aventura, levou seu Petit Eric.
    • Em janeiro de 2009 partiu de Paraty e chegou à França, realizando sua terceira travessia do Atlântico.
    • Também em 2009 consagrou-se como a primeira brasileira a participar de uma regata transoceânica, a Transat 6.50 em solitário.
    • Izabel soma quatro travessias do Atlântico num barco de 21 pés em solitário.
Mapa com o trajeto de volta ao mundo que Izabel Pimentel realizou.

Mapa com o trajeto de volta ao mundo que Izabel realizou.

  • Tornou-se a primeira brasileira – e a primeira latino-americana – a fazer, sozinha, a volta ao mundo num veleiro.
  • Em março de 2015 lançou o livro Águas vermelhas – a paixão que mudou uma vida.
  • Seu novo projeto é preparar o veleiro Don para chegar à Antártida.
  • Tem em seu currículo mais de 66.000 (122.230 km) milhas náuticas.
No barco Don, com o qual Izabel Pimentel deu a volta ao mundo - Foto: Reprodução/Marcos Lobo.

No barco Don, com o qual Izabel deu a volta ao mundo – Foto: Reprodução/Marcos Lobo.

Amandina Morbeck

banner - 30 dias de meditação numa selva na tailândia - e-book

Outras entrevistas:


2 Respostas para Izabel Pimentel: a primeira velejadora brasileira que deu a volta ao mundo sozinha [Entrevista]

Deixe seu comentário