Flanelinhas me incomodam

Publicado em por Amandina Morbeck em Cotidiano
Flanelinhas me incomodam.

Com flanelinhas não há negociação – Foto: Kiko Silva.

Hoje, saí para almoçar no restaurante que costumo ir durante a semana aqui perto de casa e já sabia que ia ter de encarar os flanelinhas. Estacionei meu carro numa rua lateral e andei até lá. No caminho, observei dois deles do outro lado da rua com aquele jeito de “sou o dono do pedaço aqui”. Os trejeitos, as expressões e a forma de abordar quem estava estacionando ali me incomodaram muito – e sempre me incomodam. 

Juro que para mim é difícil demais aceitar o fato de que não temos direito de estacionar o carro numa vaga de rua sem ter de pagar por isso porque alguém se autointitulou dono da área. E que se você ousar desafiá-lo, dizendo simplesmente “obrigada, não precisa olhar o carro”, tudo pode acontecer com ele. Aliás, tudo pode acontecer com ele mesmo se você concordar em pagar. É uma forma de extorsão socialmente aceita porque nos amedronta. E eles contam com isso, eles conhecem as nossas fragilidades e assim nos controlam.

Outro dia, fui ao lançamento de um filme na Cinemateca na Vila Mariana em São Paulo. Com muito custo, consegui uma vaga e lá veio um cara correndo que logo começou a me dar “instruções” sobre como estacionar. Ao sair do carro – o que quase todo mundo numa cidade grande já deve ter vivenciado -, ele veio com aquele jeito autoritário dizendo que eu deveria deixar pago R$ 10. “Pagamento adiantado, dona.” Com medo, paguei. Bom, nem preciso comentar que quando saí do evento não havia sinal dele na rua.

Claro que existem os defensores desse tipo de “trabalho” informal, mas para mim não tem essa de trabalho porque eles não têm a mínima responsabilidade com o que estão fazendo. Se ladrão quiser levar seu carro ele leva, se alguém quiser quebrar o vidro ele quebra e assim vai. Onde mais tem isso no mundo?

Eu só gostaria de ter opção, de poder dizer não – ou até dizer sim com tranquilidade, sem me sentir obrigada a fazê-lo, sem me sentir ameaçada. Por conta desse medo é que não consigo ver como trabalho o que esses flanelinhas fazem. Pensando nessas coisas, continuei meu caminho rumo ao restaurante, concluindo que onde eles estão a solução para não pagar é escolher um estacionamento, se tiver algum por perto. Mas logo comecei a pensar no quanto o preço de uma hora ou de um período geralmente é exorbitante e que não há garantia de que seu carro também ficará protegido.

Estamos sempre entre a cruz e a caldeirinha, como dizia minha mãe…

Amandina Morbeck


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